Gravidez na adolescência: aspectos psicológicos

 


    Olá queridos! Meu abraço de hoje é para as adolescentes que chegam ao mundo da maternidade (ou não) depois desse processo tão íntimo e cheio de mudanças que é a gravidez. Aproveitem a leitura! Faz parte dos estudos para minha área de especialização em Psicologia Perinatal. 

    Quando é cedo demais para engravidar? Como pode ser a relação mãe-filho na gravidez precoce? Gravidez inesperada por abuso ou relação consensual... aborto, doação, criação deficitária, economia e autonomia feminina, desejo inconsciente de ser mãe, vínculo afetivo positivo, amadurecimento ou atraso nas expectativas pessoais, a figura do pai adolescente...

    Segundo a OMS, é considerada gravidez na adolescência a que ocorre entre os dez e dezenove anos e 95% dos casos se dá em países menos desenvolvidos. As meninas que engravidam com catorze anos ou menos, em maioria, estão ligadas a relações de abusos sexuais e são especialmente vulneráveis, além de mais expostas à riscos de morte durante a gestação.

    A educação sexual, a proteção contra o abuso e orientações ao uso de métodos contraceptivos não demonstram caminhar na mesma velocidade das mudanças culturais, como maior liberalização do sexo na adolescência nas últimas décadas e em muitos casos, questões psicossociais que levam adolescentes, ainda em desenvolvimento físico e idade escolar, a desejarem espontaneamente a experiência da gravidez.

    Um levantamento feito pela Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) mostra que bebês de adolescentes tem baixo peso ao nascer, o que pode afetar seu desenvolvimento e que a mortalidade materna é bastante alta. Normalmente, a relação dos pais adolescentes tem em média, duração de até cinco anos, ficando a criança sem a figura do pai presente e sob os cuidados da mãe, com vinte e poucos anos, sem apoio econômico e educação prejudicada. Na América Latina, 40% dos lares são encabeçados ou mantidos pela mulher e a maioria foi fundado por mães ainda adolescentes.

    Assim, ter filhos na adolescência também acarreta consequências sociais e econômicas para as adolescentes, suas famílias e a comunidade em que estão inseridas. Diante da falta de acompanhamento da gravidez precoce e puericultura, o abandono dos estudos ou adiamento é uma das consequências e se reflete sem perspectivas de inserção no mercado de trabalho e manutenção de fatores básicos ligados à sobrevivência tanto para a mãe adolescente quanto para o futuro do seu filho, caso não haja intervenção.  

    Seguindo nesse contexto, também é alto o risco de maus tratos ao bebê, devido à sobrecarga emocional envolvida nas mudanças que gerar um filho pode acarretar em todas as áreas da vida, além dessas mães adolescentes ainda estarem em seu próprio processo de estruturação da identidade.

    O apoio familiar é outro ponto que precisa ser desenvolvido em políticas públicas de atendimento à grávida adolescente: Uma atenção acolhedora da família, com orientação psicológica adequada pode evitar crises familiares e seus desdobramentos, como avós que assumem totalmente o cuidado da criança, desqualificando a mãe adolescente ou ainda as famílias que rejeitam totalmente a maternidade precoce e reforçam o sentimento de abandono pela adolescente grávida e solteira, que muitas vezes encontra no casamento precipitado um motivo para legitimar a criação de sua “própria família”.

    O aborto, quando legal, ainda é tema polêmico e bastante complexo e não reduz a importância do acompanhamento psicológico para a adolescente e, principalmente as mais vulneráveis (dez a catorze anos), quando, sob orientação médica esta é a forma de preservar a vida da mãe. Muito além do momento da concepção dessa gravidez interrompida, essa adolescente está exposta a uma teia muito delicada de sexualidade, abusos ou iniciação em uma vida normalmente adulta de sexo, que precisa ser entendida e tratada para promover um futuro com maior possibilidade de saúde mental, autonomia feminina e estado aceitável de equilíbrio, para uma vida adulta saudável.

    A atuação de uma equipe multidisciplinar e socialmente organizada, com pais, psicólogos, médicos, assistentes sociais, pode fazer uma diferença positiva nas perspectivas futuras das mães adolescentes. Já os investimentos na educação e políticas públicas, desenvolvidas pelos governos e seguidas por organizações sociais comunitárias, como as Ongs e organizações religiosas podem contribuir positivamente na prevenção da gravidez precoce.

    De toda forma, apesar do amplo aspecto social que se desenrola através dessa temática, é preciso um olhar para o hoje, para as mães que chegam antes dos vinte anos com um ou mais filhos e, (quando não abusadas) sozinhas ou ainda que apoiadas por um cônjuge, parceiro ou familiares, veem diante de si um enorme desafio e misto de emoções, comportamentos e mudanças biopsicossociais que acarretarão transformações não somente para si, mas para o futuro de toda uma geração que se inicia a partir dela.

    Para todas as mães adolescentes, e diante de todas as dificuldades que vocês buscam contornar, muitas vezes sozinhas, meu abraço fraterno. Coragem e apoio na caminhada.


A seguir, alguns links importantes:

 

Denúncias de abuso infantil:  Disque 100

Cartilha Gravidez na Adolescência:

cartilha para adolescentes grávidas

Métodos contraceptivos:

Brasil escola - Conheça mais sobre métodos contraceptivos

Pastoral da Criança:

Pastoral da criança - Gravidez na adolescência

 

Bibliografia consultada para elaboração deste texto:

Psicologia da Gravidez: Gestando pessoas para uma sociedade melhor – Maria Tereza Maldonado

Gravidez na adolescência: Um novo olhar – Diana Dadoorian



 Beijos da Max.


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