A psicologia nos principais tipos de parto








  Seguimos nas leituras sobre Psicologia Perinatal, e o assunto dessa semana são aspectos psicológicos envolvidos nos principais tipos de parto. Nascer é um evento natural, mas o avanço da medicina também traz benefícios que vão além das analgesias de parto e melhoram o bem-estar psicoemocional da mãe nesse processo.

    Neste texto, baseado na biografia Psicologia da Gravidez, de Maria Tereza Maldonado, vamos estudar quais são os principais tipos de parto e como eles influenciam no psicológico da família que receberá um novo membro, bem como na relação mãe-filho não apenas no momento do parto, mas, inclusive, por muitas gerações adiante.

Você: “Amo meu filho, mas nem gosto de lembrar do dia em que ele nasceu.”

Sua amiga: “Deus me livre de parto normal, todo mundo sabe que nunca mais a mulher fica igual.”

Seu companheiro: “Amor, vamos fazer logo o agendamento da Cesariana pra isso passar rápido

Sua mãe: “Filha, não deseje essa dor não, você é fraquinha, pode não conseguir e acabar tendo que fazer parto Cesária: vão ser dois sofrimentos”...

    Frases do tipo acima inevitavelmente povoam (e perturbam) os ouvidos das grávidas por meses a fio, desde a concepção até o momento incerto do parto, inclusive. Dependendo da cultura local, algumas soam positivas e amigáveis e outras promovem uma avalanche emocional e psicológica que geram ansiedade, angústia, medo e estresse.

    Aproveitamos, enquanto conhecemos os principais tipos de parto, para um breve panorama sobre suas influências psicológicas maternas.

1)      Parto com uso de analgésicos e anestésicos: O “Parirás com dor” começou a ser questionado com a introdução da anestesia do parto. Simpson, em 1847 foi o primeiro a usar éter para aliviar a dor de uma parturiente. Atualmente, o Manual de assistência ao abortamento, ao parto e ao puerpério da Febrasgo (2010) apresenta como principais recursos para aliviar a dor das contrações do trabalho de parto, métodos não farmacológicos (técnicas psicoprofiláticas, hipnose, acupuntura, estimulação elétrica cutânea) a analgesia sistêmica e bloqueios regionais. Analgésicos e anestésicos que não tirem a consciência e auxiliem no controle da dor, atendem a paciente no desejo de vero filho nascer e valem para qualquer via de parto. Essa possibilidade traz mais segurança materna, apesar de existirem relatos de complicações relacionadas às anestesias e seus efeitos colaterais tanto para mãe quanto recém-nascidos ainda são objetos de estudos.

2)      Os partos vaginais, chamados “normais” podem ser subdivididos em:

a)      O parto preparado: é a atual denominação de parto sem dor. O objetivo é permitir que a mãe seja treinada para participar com lucidez e cooperação da experiência do nascimento do filho. Do ponto de vista psicológico, a grande vantagem do parto preparado é permitir à mãe vivenciar intensamente as emoções do parto com a sensação gratificante de participar ativamente do processo. O parto preparado sem anestesia, sem a assistência necessária pode ser traumatizante e em consequência, passível de prejudicar a boa consolidação materno-filial. Isso se materializa futuramente, numa “cobrança” materna de gratidão e reconhecimento.

b)      Parto Leboyer: A partir de sua experiência de observar partos na Índia, Leboyer (1974) defendeu a filosofia de “Assistência ao parto”. A preocupação inicial desse tipo de abordagem é acolher bem o recém-nascido, suavizando o impacto da diferença de ambiente intrauterino e extrauterino. Ele escreveu uma obra “Nascer sorrindo”, onde descreve a tradicional forma de parto de violenta ao bebê, e preconiza que o parto seja feito em uma sala com luz difusa, silêncio, música suave e contato corporal imediato com a mãe. O cordão umbilical também é cortado apenas quando para de pulsar e o recém nascido é banhado em água morna. O mínimo de analgesia é empregado e é dado especial importância ao período pós parto através de massagens no bebê (Shatala) com objetivo de ampliar seu desenvolvimento sensorial, perceptual e afetivo. Como tudo novo, a postura de Leboyer foi criticada de várias maneiras, o que incluiu acusações de que nesses termos, a figura central do parto era o bebê e que a mãe muitas vezes, acabava sendo negligenciada.

c)       Parto na água: Com as evidências de Kitzinger (2006), de que a imersão na água morna alivia dores musculares, cólicas e contrações no trabalho de parto diminuiu-se a necessidade de uso de analgésicos e os movimentos pélvicos para auxiliar o nascimento foram facilitados. Odent (1980) popularizou essa modalidade de parto e ampliou a postura de Laboyer, preocupando-se com a integração do atendimento humanizado ao bebê e à mãe. Nesse aspecto, estudou-se também que o nível de consciência da mãe permite que, durante o trabalho de parto ela pare de se referir a uma memória cultural (inscrita nas camadas mais evoluídas do cérebro) e se refira à uma memória arcaica mesmo, animal, própria da espécie. Para Odent, o grito que acompanha a contração e muitas vezes está associado ao medo e à dor, pode ser na verdade um sinal de que esse “estágio regressivo” à própria essência foi alcançado. Também há percepções de que o grito promove uma abertura dos esfíncteres e relaxamento do períneo. Outro ponto importante desse tipo de parto é a postura respeitoas da equipe de assistência: não há conversas desnecessárias, fala-se em voz baixa e se tem bastante reverencia pela nova vida que chega.

d)      Parto vertical: O parto horizontal, foi um invento médio (e masculino) que facilitou o trabalho de atendimento no parto e verificação do períneo no pós-parto, mas que nunca favoreceu o nascimento de forma natural. Acredita-se que foram os egípcios que inventaram a cadeira obstétrica, mas há evidencias de que parir sentada ou reclinada também era comum entre romanos. Atualmente, há estudos interessados em evidenciar as vantagens do parto vertical para mulher e o bebê, como objetivo de modificar os padrões vigentes de assistência ao parto. Para Caldeyro-Barcia, a assistência adequada ao parto normal, consiste em observar atentamente a evolução do parto, sem interferir na dinâmica. Os partos que preconizam a posição vertical, seja de cócoras, sentada ou reclinada apresentam desempenho materno e fetal excelentes do ponto de vista obstétrico, pediátrico e psicológico.

e)      Parto Humanizado: Wagner (2001) comenta que o parto apresenta processos em grande parte regidos pelo Sistema Nervoso Autônomo (SNA) e estão portanto, fora do controle consciente. O parto humano procura trabalhar na mulher a boa resposta do SNA, ao contrário do parto medicalizado, que usa intervenções externas, como uso de medicamentos e cirurgias. O parto humanizado combina as vantagens da assistência médica ocidental com as vantagens de focalizar os cuidados, considerando a natureza biológica, social, cultural e espiritual do nascimento. No Brasil, tem sido incentivado pelo Ministério da Saúde o parto humanizado.

3)      O parto cesáreo:

Era exceção até o final do século XIX e apresentava um alto índice de mortalidade materna. Com a grande evolução das técnicas cirúrgicas e da anestesia, esse índice de mortalidade foi diminuindo consideravelmente. A postura “uma vez cesárea, sempre cesárea” mudou depois que a medicina mudou a incisão vertical do útero, que dava possibilidades maiores de rotura uterina, para incisão no segmento uterino inferior, mais segura. Ainda assim, é uma cirurgia de com alto índice de hemorragias, infecções e mortalidade materna relacionada ao parto vaginal. No Brasil, em 2010 o índice de cesarianas atingiu 87% dos partos da rede privada, segundo dados do Ministério da Saúde e do Conselho Federal de Medicina (Conitec;2015) Na França, a taxa de partos cesáreos é em torno de 20%. Sabe-se que do ponto de vista médico, muitas dessas cesarianas realizadas no Brasil são desnecessárias, o que vem outro tipo de parto importante de se4r mencionado aqui.

a)      A cesárea a pedido: O fato é: A maior segurança na prática do parto cesáreo resultou na sua banalização. Há recomendações obstétricas importantes nesse sentido, de que não seja realizado parto cesáreo antes das 39 semanas completas, por exemplo. No entanto, a cesárea a pedido está imersa em um estilo de vida que predomina a vida urbana desde o século passado. Entrevistas documentadas sobre mulheres que pediram partos cesarianos, indicaram o medo do parto vaginal e a crença errada de que a cesárea seria melhor para o bebê como principais motivos para recorrerem à cirurgia. Outro ponto a ser considerado são as experiências anteriores traumatizantes, seja da própria mulher ou de outras mulheres do círculo sociocultural a que ela está submetida. Muitos desconhecimentos envolvem o medo do parto normal entre eles, o medo de perder a sexualidade por uma possível “frouxidão” no canal vaginal, dores consideradas insuportáveis e medo de não dar conta do processo até final.

 

    É importante, dentro da realidade social de cada mulher e diante de todas as possibilidades que o avanço da medicina proporciona, que seja difundido um conhecimento mais pessoal e profundo acerca do próprio corpo feminino, das fases e processos da gravidez, do vínculo mãe e filho, das relações familiares e da criação de uma rede de apoio que incentive e encorajem a mulher pela via de parto que lhe traga mais segurança e bem-estar psicológico. 

    No entanto, é por esta mesma medicina moderna, que sabe das vantagens e desvantagens de cada tipo de parto, tanto para a mãe quanto para o filho, que a mulher deve ser conscientizada e tenha clareza sobre a melhor escolha a fazer, e não apenas para buscar conforto psicológico que acomode traumas, medos, influências culturais e desconhecimento de suas funções orgânicas naturalmente desenvolvidas para a experiência exclusivamente feminina na espécie humana que é parir, mas para uma nova forma de pensar, agir e REnascer à experiencia que o parto lindamente nos convida.

 

Com carinho, Max.

Todo este texto foi baseado na literatura de Maria Tereza Maldonado: Psicologia da gravidez, e faz parte de estudos em Psicologia Perinatal.  

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